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E daí eu fui ao médico. É, isso mesmo. Na véspera, mal consegui dormir. Fiquei pensando mil bobagens, como de costume. Como não consegui marcar no consultório que sempre vou, tive que marcar em um outro consultório que ele atende, na Santa Casa. O problema é que a Santa Casa me traz más recordações. Explico: duas vezes tive que ficar na sala de medicação, por conta de crises hipertensivas que tinham a ver com a Síndrome do Pânico. Em uma vez, minha pressão estava 18 por 10. Na segunda, 17 por 9. Já aconteceu de eu ter que voltar na Santa Casa por causa do meu marido, que teve crise renal. Mas não me deu nada, fiquei numa boa, segurei a onda. Minha e dele. Cheguei na Santa Casa com um frio na barriga e um suador na palma das mãos. A parte dos consultórios é bem longe da Emergência, de onde fiquei. Mas nem isso me deixou mais aliviada.
Antes de mais nada eu quero dizer que a.m.o o meu médico. Ele é ótimo, querido, atencioso, paciente, competente e atende com a maior tranquilidade do mundo, como se a gente fosse única e especial. Jader Burtet é o nome dele: ginecologista, obstetra e mastologista. Cheguei lá, de mãos dadas com meu marido. Oi, Jader. Oi, Clarissa. Então, Jader, a gente quer ter um bebê. Ai, que coisa boa, Clarissa. Pois é, Jader, sei que tu vai dizer que não, mas por mim eu já fazia todos aqueles exames pra ver se posso ter filho. Ele sorriu e disse: é muito cedo pra pensar nisso. É, eu sei que é. Mas a minha cabeça não acha isso. Ela pensa um montão de coisa feia. E o trabalho sujo, de dar um sossega leão nos pensamentos, é todo meu. Nem sempre venço, mas juro que me esforço.
Perguntei se o uso prolongado da pílula pode trazer alguma dificuldade para engravidar, ele disse que não. Perguntei se vou demorar muito para engravidar, ele disse que não tem como prever. Só é feita uma investigação mais profunda se o casal tenta há mais de um ano, sem sucesso, ter bebê. Perguntei se já paro de tomar a pílula, ele disse que ainda não. Primeiro ele quer que eu faça uns exames. Depois, talvez eu tenha que tomar algumas vacinas. Então, posso parar a pílula e começar a tomar o ácido fólico. Ele disse que é bem difícil engravidar de primeira. A chance de engravidar a cada ciclo é em torno de 20%. O número de mulheres que perdem o bebê na primeira gestação é em torno de 13%. Sim, eu perguntei tudo que pode dar errado. Ele me mandou relaxar. Contei que estou fazendo uma dieta, que quero estar no meu peso para engravidar. Ele disse o seguinte: faz a tua dieta e quando te sentir confortável começa a tomar ácido fólico. Pedi três meses para entrar em forma, ele disse que tudo bem. Que é até bom esperar esse tempo, para fazer os exames e tomar as vacinas. Questionei sobre o Pânico, sobre a pressão e ele disse o seguinte: realmente eu preciso parar de tomar o remédio do Pânico, mas já comecei o processo de desmame. Falou que se for necessária alguma medicação, a Fluoxetina é a única que poderei tomar, que tem que ser avaliado por ele e pelo psiquiatra. Reforcei que por mim não tomo absolutamente nada, fico só no chá de camomila. Estou tomando florais, ele disse que quando eu engravidar vou ter que parar, pois eles têm álcool na fórmula. Sobre a pressão, ele disse que emagrecendo ela já vai diminuir, mas caso não normalize ele dá outro jeito. Me deixou tranquila, me deixou segura, me deixou sem medo. Pediu muitas vezes para que eu relaxasse. Saí de lá com uma requisição e feliz. Até que.
A gente sempre encontra pelo caminho alguém pessimista. E alguém que adora jogar areia no sonho do outro. É ou não é? Então encontrei uma amiga, comentei com ela sobre o médico e ela cortou o meu barato na hora. Olha, Clarissa, pressão alta é um problema sério, tem que cuidar, tem que ver isso aí, em alguns casos nem é bom engravidar. Meu ginecologista tem todo o meu histórico, sabe de todos os meus problemas, falei que morro de medo de ter pré-eclâmpsia, de morrer, do bebê ter algum problema, etc. e tal. Ele me explicou diversas coisas e pediu que eu ficasse tranquila. Mas eu não sei ficar tranquila. Então, pesquisei no Dr.Google sobre gravidez e hipertensão. Li várias histórias tristes de mulheres que tiveram que fazer cesariana com 20 e poucas semanas e, é claro, o bebê não sobreviveu. Li outras tantas histórias de mulheres que tiveram pré-eclâmpsia, convulsão e sei lá mais o que e o bebê também não sobreviveu. Li mais outras tantas histórias horríveis e pensei: talvez ter um bebê não seja pra mim. E chorei. E fiquei triste. E percebi que de repente eu estou sofrendo por antecipação. Então resolvi tentar ficar tranquila.
Pode ser que emagrecendo a minha pressão estabilize. Pode ser que eu engravide e tenha uma gestação tranquila. Pode ser que eu engravide e minha pressão fique maluca. Mas tem um remédio que as gestantes podem tomar. Mas tenho um médico que é super cuidadoso. Mas tem formas de deixar o bebê mais forte caso o parto tenha que ser antecipado. Mas se fosse realmente um risco meu médico diria. Então resolvi respirar fundo, curtir esse momento bacana de preparação, me focar em dieta e exercícios e fazer os exames. Sem drama, sem colocar a carroça na frente dos bois e da boiada inteira. Espero que eu consiga.