segunda-feira, 1 de abril de 2013

Sobre o medo que apavora, a libertação, a força de vontade e muitas outras coisas



Em alguns dias realmente me sinto uma pessoa abençoada. E, francamente, nem sei se mereço tanto. Não acho que eu seja uma pessoa ótima, nem que faça algo de extraordinário para a humanidade. Mas eu tento deixar algo de bom. Acho que a gente não deve apenas passar pela vida. Eu tenho a minha missão, você tem a sua. E a minha, suspeito, é levar alguma emoção para a vida das pessoas.

Hoje recebi uma mensagem no Facebook que encheu meus olhos de lágrimas. Uma menina relatou sua história de paniquete (nome que inventei pra quem tem Síndrome do Pânico) e no final da mensagem disse em alguns momentos leu meu blog, meus textos e começou a ter esperanças novamente, voltou a pensar no futuro e sorrir. Por quê? Por que ela leu meu relato e viu a minha superação e vontade de viver. Poxa, eu fiquei tão, mas tão emocionada. Explico e repito: só quem já passou por alguma experiência parecida é que sabe como é *insira aqui seu palavrão preferido* viver com esse medo absurdo te rondando. Me emocionei porque minha história modificou o presente e o futuro de alguém. Tem coisa mais bonita?

Nem sempre é simples identificar o transtorno. No começo, uns acham que é frescurite. Outros confundem com outras doenças. Alguns até palpitam que você está querendo chamar atenção, aparecer ou está super carente. Mas ninguém sabe o que é viver no escuro, com luzes apagadas e um chão escorregadio. Ninguém sabe o que é viver com o medo na garganta. Ninguém sabe o que é pensar que vai dormir e nunca mais acordar. Ninguém sabe o que é sentir as pernas moles, geladas, as mãos suadas, o coração disparado, uma dor forte no peito, uma tontura, uma ânsia de vômito, uma sensação de que você está enlouquecendo, outra sensação de que você está morrendo, pernas e braços formigando, sensação de desmaio, suador, vontade de sair dali, mas ir pra onde? Tudo isso junto, ao mesmo tempo, no mesmo segundo. Tudo isso por muitos minutos. Ninguém sabe o que é isso, pois se soubesse jamais diria que é frescurinha, carência afetiva ou qualquer outra coisa. Ninguém sabe o que é ter que fazer terapia uma vez por semana, remexer em passado, em sonho, em mágoa, em trauma, em seu lado mais negro e sombrio para tentar descobrir da onde vem aquilo tudo. Ninguém sabe o que é ficar tentando achar a medicação certa para tentar amenizar sintomas que nunca vão embora. Ninguém sabe o trabalho que dá fazer tarefas simples e corriqueiras, como andar de elevador, medir a pressão arterial, tomar banho, trabalhar, atravessar a rua, ir a um lugar que tenha mais de 10 pessoas no mesmo ambiente (o pânico normalmente vem de mãos dadas com a agorafobia, que é aquela aflição de estar em lugares muito cheios e/ou difíceis de sair. Eu durante muito tempo sentei em lugares perto da porta, assim, caso tivesse uma crise, levantava e conseguia sair logo para tomar ar.) Ninguém sabe o que é dormir e acordar com o medo de ter medo, o medo de ter nova crise. E se eu tiver uma crise no meio do restaurante, no meio da rua, no ônibus, no trânsito, no banho. Ninguém sabe o que é sentir a crise chegar nos momentos mais amenos, como um filme, um gole de suco, um xixi, um escovar os dentes após o jantar. Ninguém sabe. Só quem já passou por isso. 

Pesquisei, li, me analisei e comecei a falar e escrever sobre o assunto e percebi que muita gente tem medo de dizer o que sente ou tem. Infelizmente, alguns torcem o nariz. Ih, é louca. Ih, toma remédio. Ih, que história bem esquisita. Ih, duvido que alguém sinta isso. Pois é, eu também duvidava. E olha que fiz quatro anos de Psicologia, estudei isso na faculdade. Mas uma coisa é a teoria. Outra é a prática. 

Depois que eu entendi o que é o Transtorno do Pânico, tive que me aceitar. Aceitar o que eu tinha, aceitar minha nova "condição", aceitar que eu precisava de ajuda, aceitar que não era feio dizer ei, fica comigo, ei, preciso de você. Eu aceitei. Disse sim pra mim. Depois, tive medo. Medo de não conseguir vencer. Medo de deixar todas aquelas sensações ruins me dominarem. Medo da minha vida nunca voltar a ser como era antes. Medo de nunca mais sair na rua conferindo se eu estava com o celular carregado, se estava com o Frontal na bolsa, se minha carteirinha do plano de saúde estava mesmo dentro da carteira. Medo de ter uma crise e desmaiar no meio da avenida. Medo de ter medo. Aí veio a revolta. Por que eu? Por que comigo? Por que me escolheram? Por que tenho que passar por isso? Por que a vida é tão injusta? Por que logo agora? Por quê? Então, a tristeza tomou conta. Puxa vida, nunca mais vou conseguir fazer as coisas que eu fazia, como ir ao cinema lotado, tomar um banho relaxante e demorado, andar de elevador sem ficar cuidando os andares, andar na rua me sentindo livre, olhar pra mim e me sentir livre. Daí uma solidão me invadiu. Achei que eu era a única no mundo que sentia tudo aquilo, que era refém do medo, que por mais que eu tentasse e tentasse e tentasse e tentasse muitas vezes explicar, meu Deus, ninguém nunca ia entender todo aquele desespero que habitava meu coração e que dava mil cambalhotas mortais e me tirava do prumo e me deixava sem rumo. Sofri. Como eu sofri. Sofri a ponto de chorar por noites e noites e noites, não de depressão ou tristeza, mas de solidão. Uma solidão assustadora, um medo de perder as pessoas que eu amava, um medo de me perder de mim. Uma solidão terrível, pois aquela não era eu e eu me queria MUITO de volta. Então, depois de todas essas fases, eu tentei. Tentei dar um passo de cada vez, tentei fazer dar certo, tentei seguir um tratamento, tentei encontrar não o caminho de volta, mas o caminho do futuro. Tomei um remédio que não resolveu totalmente o problema, fiz muita terapia, tomei o amigo Frontal na hora em que o bicho pegava feio. Um ano depois troquei a medicação. E o Lexapro resolveu demais a minha vida, com ele eu quase não tinha crises. E dele eu me libertei na semana passada. Com ele, eu enfrentei meus medos cara a cara. Ele me deu força para eu encarar os desafios que estavam dentro do meu peito e circulando na minha vida. Sou da opinião que a gente deve tentar vencer aquilo que tenta vencer a gente. E foi o que fiz. Vi uma luzinha fraca no fim do túnel, me agarrei nela bem forte e segui. Porque a gente tem que tentar, tentar, tentar. Por mais que pareça difícil, distante e doloroso. Por mais que ninguém acredite ou bote fé. 

Foi assim que cheguei até aqui. Sei que o caminho ainda é longo. Mas não fico pensando no medo, no que vou sentir, se ainda vou ter alguma crise ou se o Pânico me espera ali na esquina. Penso no hoje, no agora e, é claro, no futuro. Porque a gente tem que ter alguma esperança de que as coisas finalmente vão, sim, ficar bem. E eu tenho. E tenho certeza, querida leitora que me mandou a mensagem bonita, que você também tem.

5 comentários:

  1. Agora entendo porque me idendifiquei tanto com seus poemas e poesias. Tenho esse trastorno a mais de 6 anos já tomei tds as medicações q vc descreveu, só ñ sei como sair de vez deste inferno que trasformou minha vida.Queria muito me libertar

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  2. Maravilhoso seu texto, Clarissa.
    Não tenho a paniquite, mas tenho depressão associada a crises de ansiedade. Não é fácil. Não é fácil quando até as pessoas mais próximas não entendem o que você passa. Mas estou neste caminho da luta, também. E também tenho esperança que um belo dia, não terei mais nada disso.
    Um beijo!

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  3. Eu tbm tenho depressão devido as minhas crises de ansiedade.
    E me identifico mto com seus textos,tenho esperança de um dia ser 1% do que vc é agora:GENIAL.

    UM BEIJÃO

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  4. Tive transtorno e ainda tenho sintomas leves, mas q ainda complicam minha vida.Insegurança, medo de ter medo, medo da crise...enfim, só quem passou sabe!Amei o texto!!!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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